domingo, 26 de junho de 2011
segunda-feira, 20 de junho de 2011
MENTINDO EM NOVA BRÉSCIA por Norma Figueredo
Mentindo em Nova Bréscia
Norma Figueredo
De tanto ouvir falar que lá se mentia pra valer, fomos eu a Simone conferir o Festival da Mentira em Nova Bréscia.
Chegamos assim como quem não quer nada e ficamos assuntando.
Perguntei para um homem que passava: - Tem mentiroso aqui? Não, foi a resposta.
-Mas como, se aqui é a terra da mentira?
Ele saiu rindo e fazendo sinal de positivo.
A rádio local transmitia o evento do salão paroquial, entramos, olhamos porta adentro e num estúdio improvisado o locutor se virava como podia.
Quando a Simone perguntou-lhe se colocaria no ar uma mensagem tipo “Procura-se marido” ele respondeu:
- Nunca se cogitou, mas quem sabe?
Saímos rindo e fomos para o andar de cima conferir os produtos expostos numa feira que lá ocorria.
Aí a irreverente mocinha pergunta:
- Vocês vendem cobertor de orelha?
- Olha moça no momento estamos em falta, mas quem sabe um edredom para quebrar o galho?
Aí já viu, saímos meio de esguelha e fomos sentar na praça pra dar um tempo.
Foi então que o locutor anunciou que haveria demonstração de adestramento de cães. Achei legal e fomos conferir. Mas logo de cara me chamou a atenção um vira-latas que dormitava num canto, quando passei ele veio para o meu lado (todo lampeiro) e me chamou de “companheira” .
Então respondi: - Sai de mim coisa ruim, eu hein?!
Só então notei que em sua coleira havia uma estrela vermelha.
Ele me contou uma história comprida dessas que só cachorro de Nova Bréscia é capaz de arquitetar.
Disse que era Presidente da Associação de Cães sem Teto e sem Cesta Básica e que iria à Brasília cobrar umas promessas de campanha.
- Sabe, poderias ser minha parceira, tens uma cara confiável formaríamos uma dupla imbatível.
Aí me deu nos nervos e perguntei: - Você é louco ou está se divertindo as minhas custas?
No que ele responde: - Louco da cabeça não, sou louco é de sem vergonha.
Saiu todo cheio de razão e foi até uma tenda onde gritou para o garçom: - Meu chapa, manda ver uma Red Bull, aquela que dá asas!
Virou num gole e gritou: - Hora de decolar companheira, asas pra que te quero!
Segurou-me pelo braço e quando me dei conta já estávamos voando, quase batemos na torre da igreja eu gritava: - Pára! Pára!
E, ele respondia que se parássemos cairíamos e, que o jeito era subir cada vez mais e rezar para o anjo da guarda dos cachorros nos livrar da turbulência.
Eu pelo sim e pelo não encomendei minha alma e pensei: - Seja lá o que Deus quiser!
E depois de muito sofrer finalmente estávamos quase chegando a Brasília, quando uma nave espacial passou raspando sobre as nossas cabeças, freou bruscamente e um E.T. gritou:
- Ei terráqueos, qual o caminho para Nova Bréscia, ouvi dizer que lá tem um festival da mentira, é verdade?
A propósito: - Não querem se juntar a nós?
O camarada da estrela se fez de rogado, argumentou que tinha uma audiência marcada em Brasília e ficou naquele trelélé...
Acabou concordando, pois o efeito Red Bull estava vencendo e ante as evidências foram-se os argumentos.
Eu curiosa, perguntei ao E.T. como ele obtivera informações sobre o festival da mentira.
Ao que ele responde:
- Ora, pela rádio de Nova Bréscia!
- E a rádio pega lá na sua galáxia, perguntei.
- Pega tudo minha cara terráquea, só não pega a mentira que é coisa de terráqueo!
O cão companheiro até então calado propõe darmos uns bordejos por Brasília, beber umas que outras e entabular um intercâmbio cultural para cães abandonados.
E, nesse vai e vem, alguns dólares na cueca ou na na mala (nem precisava ser um malão) coisa pouca chegaria para um idealista preocupado com o bem estar dos cães desvalidos.
- Nunca se sabe o que nos reserva o futuro, disse ele.
- Sendo assim, podíamos descer na capital conhecer pessoas, que nos seriam úteis, para intermediar favores, porque sem pistolão, aqui não tem jeito meu velho!
O E.T. ficou mais verde do que de costume. E partiu com tudo pra cima do companheiro:
- Seu ser desprezível, você está me confundindo com os da sua laia, não somos farinha do mesmo saco!
E, sem mais delongas, pegou-o pela coleira e arremessou-o no calabouço da nave.
-Saiba que lá na galáxia, tentativa de suborno é crime hediondo, o condenado é atirado vivo nas crateras da lua!
O companheiro ficou branco, até a estrela vermelha amarelou. Mas rapidamente se refez do susto e relaxou, seguindo o conselho de uma certa ministra.
O companheiro que era descolado e manhoso ficou matutando um jeito de dar o troco.
- Esse E.T. vai aprender com quantos paus se faz uma canoa!
Depois de algum tempo ele interfonou argumentando:
- Oi você da outra galáxia, foi só uma pegadinha pra descontrair, coisa de mentiroso. Vamos reconsiderar os fatos, conversando a gente se entende.
O E.T. que era boa gente aceitou a trégua.
O companheiro, ao contrário, estava cheio de más intenções.
A nave mal aterrissa e o malando salta no pescoço do E.T. coloca-lhe a coleira e sai gritando:
- Olha o mascote, filhote único recém chegado de Marte!!!!!!
Em se tratando de festival da mentira até E.T. entra na dança minha gente!
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